A notícia mais importante do CES é uma resposta de U$ 300 milhões ao GamerGate
A notícia mais importante do CES 2015 envolve centenas de milhões de dólares e um titã da indústria da tecnologia. Ela tem sua origem em um movimento que marcou a segunda metade de 2014. Não é um gadget. Não é um serviço. Não é nem algo que sequer esteja a venda, na realidade.
A notícia mais imprtante do CES 2015 vem da Intel, que anunciou sua Iniciativa pela Diversidade na Tecnologia na noite de Terça-feira: um ambicioso investimento de R$ 300 milhões de dólares, com a intenção de "melhorar a representatividade de mulheres e minorias sem representatividade no nosso trabalho e na nossa indústria" através de parcerias, contratações e fiscalização. Como disse o CEO da Intel, Brian Krzanich, "este não é apenas um bom negócio; esta é a coisa certa a se fazer". Para uma companhia formada por 75 porcento de homens, já era a hora.
O anúncio desta semana é uma séria reviravolta a respeito das confusas mensagens que a Intel estava passando meses atrás. Para entender completamente a situação em que a Intel estava envolvida, te levaremos de volta ao ambiente cáustico que tomou lugar da metade até o final de 2014. O assunto controverso do GamerGate estava em pleno andamento. Um grupo de gamers se uniu com a hashtag #GamerGate no Twitter, que alegava lutar por ética no jornalismo sobre games. Apesar da intenção anunciada, o grupo foi fortemente associado com ameaças, perseguição e "doxxing" (o ato de publicar endereço e outras informações de identificação de indivíduos)
Mais especificamente, o movimento "GamerGate" teve como alvo mulheres na indústria de desenvolvimento de jogos e a crítica de mídia Anita Sarkeesian. Foi, e é, um movimento cooptado por parasitas que nem sequer têm interesse em games, nenhuma história nesta indústria; pessoas como Christina Hoff Sommers e Milo Yiannopoulos, que a Gawker apropriadamente descreve como "As Subcelebridades de Direita que Transformaram o Gamer Gate em Seu Exército de Losers".
Segundo a publicação de um artigo sobre a indústria de games do Gamasutra, entitulado "Gamers não têm que ser seu público. Gamers acabaram", do editor Leigh Alexander, o movimento GamerGate focou sua ira nos anunciantes. Membros do movimento criaram cartas de formulário e juntaram endereços de e-mail de importantes anunciantes ligados a publicações consideradas "anti-GamerGate". Apesar do artigo do GamaSutra ter sido fortemente baseado acerca da inclusão, alguns membros do movimento GamerGate levaram tudo isso ligeiramente a respeito de como eles se auto-identificam (como "gamers"). Como a Intel era (naquele momento) um dos anunciantes da GamaSutra, a empresa foi inundada de e-mails de potenciais clientes (GamerGaters) exigindo que a Intel parasse de anunciar na Gamasutra. Em uma resposta lamentável e instintiva, a Intel se rendeu e removeu os anúncios do site. Naquela situação, a empresa fez este pronunciamento:
"A Intel removeu seus anúncios do site Gamasutra. Nós levamos a opinião dos nossos clientes muito a sério especialmente no que se refere a conteúdo contextualmente relevante e onde anunciamos".
Isto foi em 1 de Outubro de 2014. No dia 3 de Outubro, a Intel se deu conta de que que era um jogador involuntário em um assunto muito maior. A companhia lançou então o seguinte pronunciamento, que como você pode perceber é mais detalhado, mas ainda perde o ponto:
"Nós levamos a opinião dos nossos clientes a sério. Por enquanto, a Intel decidiu não continuar com nossa atual campanha publicitária no site de games Gamasutra. Porém, reconhecemos que nossa ação inadvertidamente criou uma percepção de que de alguma forma tomamos um lado no debate que está se tornando cada vez mais amargo na comunidade gamer. Esta não era nossa intenção, e este não foi o caso. No que se trata de igualdade e mulheres, queremos ser bem claros: a Intel acredita que homens e mulheres devem receber o mesmo tratamento. E diversidade é uma parte integral na nossa estratégia corporativa e visão com comprometimentos para melhorar a diversidade da nossa força de trabalho. E enquanto respeitamos o direito dos indivíduos de ter suas crenças pessoais e valores, a Intel não apoia nenhuma organização ou movimento que promova discriminação contra mulheres. Nós pedimos profundas desculpas se ofendemos alguém."
Levou mais um mês para que os anúncios da Intel voltassem para o Gamasutra, e a companhia voltou para a periferia da polêmica do GamerGate.
Avançamos dois meses e a Intel fez uma conferência de imprensa de uma hora no CES 2015. O assunto do GamerGate foi extremamente comentado e a Intel conseguiu escapar relativamente ilesa do pesadelo. Isto tudo para dizer que foi uma grande virada para a Intel não somente voltar para o centro das atenções como também colocar seu dinheiro onde seus ideais (supostamente) estão. E isto não foi apenas um investimento financeiro com cautela, como também uma mudança cultural na Intel de maneira geral. A companhia se comprometendo em ter "total representação em todos os níveis de nossa força de trabalho até 2020". Isto também se extende ao gerenciamento, cujo salário estará vinculado ao progresso da companhia. Acha pouco? A Intel emprega mais de 100.000 pessoas. O conceito do que a companhia está fazendo aqui é enormemente expandido quando colocado na escala de uma organização do tamanho da Intel.
Painel da diversidade da Intel no CES 2015
Não se engane: o investimento de U$ 300 milhões e a mudança na política de contratações é um resultado positivo genuíno dos últimos seis meses de horríveis acontecimentos. Também é, claro, uma resposta aos dados atuais que mostram de forma incisiva como a indústria da tecnologia não é diversificada. E os dados do Google, para começar? Lembre-se, esta é a companhia do "não seja mau". "Cerca de 91 porcento dos funcionários do Google são asiáticos ou brancos, e 70 porcento são homens", nós escrevemos em maio de 2014, citando um estudo interno do Google. O Google possui mais de 55.000 funcionários.
A situação em outros gigantes da tecnologia não é muito melhor. O eBay lidera o ranking da diversidade com o maior percentual de funcionárias do sexo feminino (42 porcento), enquanto grandes como o Twitter estão tão ruins quanto o Google (com cerca de 30 porcento de funcionárias). E a Intel, que visivelmente não forneceu informações de seus números a respeito de diversidade justamente quando anunciou sua iniciativa a respeito da diversidade? O The Atlantic expôs em Agosto que cerca de 24 porcento dos funcionários da Intel são do sexo feminino.
Como o artigo aponta, publicar estatísticas de diversidade (ou a falta disso) não faz muita diferença em realmente aumentar a diversidade de funcionários. Então, o que faz? Ação! É por isso que o movimento da Intel é algo realmente grande — a maior notícia da CES 2015, para que você não se esqueça — e o motivo pelo qual venho evangelizando o movimento desde Terça à noite. Pelo menos alguma coisa boa saiu desta bagunça toda do GamerGate.
Via www.engadget.com